sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O curso de cinema · Um novo cinema paulista


“É São Paulo tentando recuperar o atraso de 10 anos na produção cinematográfica e audiovisual”, diz o cineasta Toni Venturi, diretor de filmes como Cabra Cega e Estamos Juntos. Ele estava no grupo que procurou o secretário de cultura da cidade, Juca Ferreira, logo que foi empossado, para apresentar a proposta de uma empresa de fomento à produção, distribuição e exibição do cinema e audiovisual paulista. “Nos moldes da Riofilme, mas adequada à nossa realidade.”


A ideia foi bem recebida pelo secretário, que já conversava com o prefeito Fernando Haddad sobre o assunto, paralelamente ao governador do Estado, Geraldo Alckmin, com o seu secretário de cultura, Marcelo Araújo. Resolveram, então, unir forças. Foi o que disseram hoje durante a cerimônia de entrega do projeto de lei que cria a SPCine – Empresa de Cinema e Audiovisual de São Paulo à Câmara dos Vereadores, na Praça das Artes, diante de cerca de 300 convidados – entre eles atores, diretores e produtores de cinema.

“Serão as três esferas públicas, mais os produtores, pensando a produção audiovisual. Isso vai gerar uma sinergia interessante”, disse o prefeito Haddad, dirigindo a Ferreira a sugestão de trabalhar para o que chamou de “faixa exclusiva” – em referência à ação da Secretaria Municipal dos Transportes -, tendo em vista a desburocratização do sistema.

“Uma política pública contemporânea não diz respeito apenas a como a cidade pode contribuir para o audiovisual, mas como o audiovisual também pode contribuir para a cidade”, disse Ferreira. O secretário afirmou ainda que a SPCine vai estimular coproduções e codistribuições, além da criação de circuitos populares e apoio à formação nas periferias – ponto reforçado pelo prefeito, já criando o que poderia ser um slogan: “SPCine para todos”.

A importância da criação da SPCine para todo o país também foi um ponto abordado pelas autoridades presentes. A ministra da Cultura, Marta Suplicy, lembrou que a cidade já foi protagonista na produção cinematográfica brasileira e salientou que o cinema, como mostra a história de Hollywood, é um dos instrumentos mais eficazes para formar a imagem de um país. “A SPCine é para o Brasil, não só para São Paulo”, disse.

Já o governador Geraldo Alckmin destacou os aspectos sociais e econômicos. “Só estamos dando o primeiro passo de uma história de sucesso. E estamos trabalhando como o cinema faz, em equipe. Teremos bons frutos na cultura, mas também sociais, econômicos e na geração de empregos”, afirmou.

A Riofilme foi exemplo e apoiou fortemente a criação da SPCine. Segundo Toni Ventura, foram várias reuniões com a equipe carioca, para saber o que funciona numa empresa desse tipo. “Fomos muito bem recebidos”, diz o cineasta, com a confirmação de Juca Ferreira: “A SPCine não nasce para concorrer, mas para somar e agregar forças. A ideia é criar um sistema em parceria e complementaridade com o Rio”.

Na prática - Tanto a prefeitura quanto o governo do Estado darão um aporte inicial, em 2014, de R$ 25 milhões cada para a criação da SPCine. O governo federal, que participará por meio da Ancine (Agência Nacional do Cinema), informará o valor a ser investido quando a empresa já estiver em funcionamento.

O restante da receita deverá vir das próprias operações da empresa; dos contratos e convênios com entidades públicas e privadas, nacionais ou estrangeiras; incentivos fiscais; e doações, operações de crédito e/ou participação em Fundos de Investimento.

A estrutura da equipe ainda não está definida e vai depender do montante de recursos disponível. Por enquanto, a ordem é ser enxuta. “As empresas públicas são muito vistas como cabides de empregos, porque muitas de fato são. Neste caso, queremos eficiência e modelo de mercado”, afirma Toni Ventura.

Um dos aspectos mais importantes será a atuação como film comission. “Hoje temos dificuldades para filmar na cidade porque não há sinergia e logística”, aponta Ventura. A ideia é que a Film Comission agilize os processos para filmagem em espaços públicos, por exemplo.

A SPCine, segundo o projeto de lei que segue para a Câmara – e que, segundo o seu presidente, deputado José Américo, deve ser votada em até 30 dias -, deverá ainda subsidiar ações de pesquisa e desenvolvimento científico e artístico e a construção de espaços físicos destinados à atividade audiovisual; desenvolver ações de formação; comercializar e distribuir produtos e serviços relativos à atividade audiovisual; e subsidiar eventos promocionais no Brasil e no exterior.

Expectativas - Para Mauro Garcia, diretor executivo da ABPITV (Associação Brasileira de Produtores Independentes de Televisão), uma das 10 organizações que participaram da criação do projeto de lei, a SPCine vai favorecer aos produtores independentes de TV e do audiovisual em geral por conta de suas linhas de ação, que vão desde o desenvolvimento de projetos até a produção, distribuição e exibição, fortalecendo toda a cadeia produtiva do audiovisual e o mercado. “Apesar do nome SPCine, defendemos – e consta do texto do projeto – que o audiovisual estivesse explícito, e não somente a atividade cinematográfica, visto que hoje o audiovisual está disponível em tantas telas e plataformas que o termo exige essa maior abrangência”, conta.

O objetivo é fomentar a produção cinematográfica, publicitária, televisiva, games, animação e conteúdos transmídia. Por isso, também participaram da elaboração da proposta entidades como a Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames), além da Rede de Coletivos de Artes Visuais (ALT [av]), a Associação Brasileira das Empresas Locadoras de Equipamentos e Serviços Audiovisuais (Abele), Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA), Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro), Associação Paulista de Cineastas (Apaci), o Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (Siaesp), Associação Brasileira de Curta-Metragistas e Documentaristas – Seção São Paulo e a Associação dos Roteiristas (AR).

“Foi um trabalho intenso de meses, onde discutimos com a Secretaria de Cultura e nossos pares como vai ser a agência”, conta o cineasta e roteirista Mauro Baptista Vedia, da AR. Para ele, uma empresa de fomento ao cinema e de distribuição de filmes vai trazer mais produção e, portanto, mais trabalho para todos os profissionais da área, entre eles os roteiristas. “O excepcional edital de desenvolvimento da prefeitura deste ano, já com o espírito da SPCine, é uma primeira mostra de como a empresa pode favorecer os roteiristas independentes. Teve mais de 600 projetos, o que prova a quantidade de talento reprimido que tem esta cidade.”

Mais de 500 produtoras estão sediadas em São Paulo. Em 2011, 32 filmes paulistas tiveram lançamento efetivo no mercado – o Rio de Janeiro levou 43 longas-metragens às telas. Apesar do crescimento – em 2007 foram 23 produções filmadas na cidade; em 2012 foram 158 -, fatores como a burocracia impediram um maior desenvolvimento do audiovisual local. Nos últimos 10 anos, a capacidade das produtoras paulistas mobilizarem recursos por meio de leis de incentivo fiscal foi 30% menor do que as do Rio de Janeiro, segundo dados da Ancine. A SPCine chega com o papel de mudar esse quadro.

*Com a colaboração de Patrícia Lima


Fonte: http://www.culturaemercado.com.br/destaque/um-novo-cinema-paulista/


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